31 de out. de 2010

Presiden...ta?

Pois a Dona Dilma venceu a eleição. Desejo, do fundo do meu coração, boa sorte para nossa futura presidente. Sim, presidente, que toma leite quente que dói nos dentes da gente. Ela, mulher, mãe, avó, será a primeira presidente - assim mesmo, com "e" no final - do Brasil. Porque a palavra "presidenta" pode até aparecer num ou noutro dicionário, mas é um aborto, coisa que a Dilma e o Serra prometeram combater. No caso, um aborto linguístico, uma excrescência.
Mas por que toda essa minha fúria contra uma palavrinha tão inofensiva? Porque ela fere, de forma ampla e irrestrita, a lógica, a tradição e a beleza da língua. Explico: o sufixo "-nte" que existe em português, como em presidente, pedinte, palestrante, gerente, vem de uma desinência verbal do latim. Ou seja, essas palavras são originadas, a princípio, de um verbo - em latim, essas formas verbais eram chamadas de particípio presente. Essa forma verbal tem um significado explicitamente ativo, ou seja, aquele que pratica a ação; por exemplo, presidente é "(aquele) que preside".
Acontece que, tanto em latim quanto em português, palavras com essa função e com essa forma são palavras que designam e abarcam completamente os dois sexos - masculino e feminino (em latim, na verdade, serve também para o neutro). Porque são, antes de tudo, formas verbais incorporadas em substantivos. Não por acaso, um susbtantivo desse tipo é chamado "comum de dois (gêneros)". Então, essa moda de efeminar o sufixo, metendo um "a" no final para designar pessoas do sexo feminino que executam a ação, é desnecessária, equivocada, sexista e incoerente. Pois se moda pega, a gerente de um banco será a "gerenta", e uma palestrante será uma "palestranta". Uma mulher grávida seria, então, uma "gestanta". Ridículo, não?
A mesma coisa poderia se pensar com o sufixo "-sta". A jornalista versus o "jornalisto", a dentista versus o "dentisto". É a esse esgoto que esses fanfarrões querem levar nossa língua? No juridiquês, forma pernóstica - e por vezes perniciosa - da língua, os doutos doutores, muitos sem doutoramento, inventaram que palavras com final em "-l" são masculinas, e derivaram daí as oficialas e as bacharelas. Ainda bem que o pincel não é título judiciário; passou incólume!

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