31 de mai. de 2006

Implicância

João e Antônio moravam juntos havia alguns anos. Dividiam um pequeno apartamento, em um bairro aprazível da cidade. Fazia uns seis meses conseguiram livrar-se da incômoda vizinha do apartamento da frente, uma senhora tão intrometida quanto gritalhona. Desde então, aquele apartamento estava para ser alugado, fato indicado por dois adesivos postos nas suas janelas frontais.
Em um dia desses, mais precisamente numa quarta-feira pela manhã, João volta de suas compras e encontra Antônio recém acordado. Após a saudação matutina, lhe diz:
-Viu que alugaram o apartamento da frente?
Antônio prontamente lhe respondeu:
-Sim, mas já faz um tempão.
João sentiu-se contrariado. Fazia um "tempão" que o apartamento "estava para ser alugado", mas não que "estava alugado"; no sábado anterior ainda tinha visto os dois anúncios de aluguel. Mas resolveu não criar caso por tão pouco, e não disse nada, apenas continuou a desembrulhar suas compras.
Antônio, talvez perturbado com o silêncio inesperado, emendou:
-Já tá a semana toda assim.
-Bom, essa semana... pode ser.
João agora estava convicto da contradição. O outro percebeu que estava errado, e resolveu consertar o dito. Mas ele ainda encontrava falhas, mesmo na desculpa. Afinal, de que semana Antônio estava falando? Fosse da semana contada desde a quarta-feira anterior, estava errado pois no sábado ainda havia o anúncio. Caso fosse da semana cristã, com início no domingo, a chance de Antônio estar blefando era enorme, pois estava mesmo chovendo fortemente desde então, e seria pouco provável que ele inclinaria seu guarda-chuva para avistar se aquele imóvel continuava disponível.
João concluiu que devia ser mais uma implicância fortuita de Antônio. Para João, Antônio tinha essa característica incômoda. Opinava sobre assuntos que desconhecia, e lançava afirmações contundentes sobre fatos ou nomes notoriamente equivocados. Mas João definitivamente não queria entrar em discussão, e deixou por isso mesmo.
Quando estava saindo para trabalhar, encontrou Albertina, a zeladora do prédio, uma mulata vistosa de ancas fartas. Interpelou-a:
-Oi, sabes dizer se alugaram o apartamento da frente?
-Ah sim, foi ontem.
-Obrigado.
João virou-se e desceu as escadarias do prédio. E abriu um largo sorriso.

30 de mai. de 2006

Conversas Cruzadas

Abaixo transcrevo uma conversa que travei com um colega meu, ao qual chamarei de Buneco.

Nunca forneça sua senha ou o número do cartão de crédito em uma conversa de mensagem instantânea.

Buneco diz:
O chefe está?

Usermaatre diz:
Não, ainda não nos honrou com sua presença.

Buneco diz:
A que horas ele tem costumado chegar?

Usermaatre diz:
Não sei, ele não sói chegar em um horário fixo

Buneco diz:
ok

Usermaatre diz:
Digamos que ele tem um invervalo

Buneco diz:
OK

Usermaatre diz:
[12:00; 19:00]

Buneco diz:
ah tá bem... é claro...

Usermaatre diz:
Isso considerando um intervalo fechado...

Buneco diz:
Ou será (12:00;19:00) é aberto, semiaberto à esquerda ou semiaberto à direita ??

Usermaatre diz:
Poderia ser também (12:00; 19:00]

Usermaatre diz:
Pois é...

Usermaatre diz:
Talvez fosse prudente escrever "ele chega às X horas, tal que X >= 12:00"

Usermaatre diz:
Mas o Cel. Vespúcio já esteve aqui à sua procura

Buneco diz:
Talvez melhor ainda : x, tal que x € R e x>= 12:00

Usermaatre diz:
Ah, isso fica subentendido na medida em que foi escrito "X horas". Ora, X então é um hora e pode ser representado por um número real, ainda que formatado em horas:minutos

Buneco diz:
Não, mas FORMALMENTE falando, não tem esta de subentender...

Usermaatre diz:
Ora, é uma dedução lógica, puro modus ponens!

Buneco diz:
Não tão lógica assim. Afinal, podemos dizer x, tal que x € Q ao invés de R

Usermaatre diz:
Nah, essa é uma limitação desnecessária. O tempo pode ser irracional.

Buneco diz:
O tempo sim, mas as horas e os minutos (ou horas fracionárias), não .

Usermaatre diz:
Além do mais, o símbolo de euro não é reconhecido como operador matemático entre objeto e conjunto; logo, a tua formalização acima não é uma wff (well formed formula)

Buneco diz:
Sim, mas está subentendido que tu irias entender o que eu quero dizer...

Usermaatre diz:
Nah, não tem essa de subentender.

Buneco diz:
Como não ?????

Usermaatre diz:
Ah, então uma hora pode, e outra não pode? Isso é paradoxal, meu abádico amigo.

Buneco diz:
Sim, mas se crermos em DEUS então poderemos conviver com os paradoxos

Usermaatre diz:
É, esse é mais um mistério da fé.

Buneco diz:
Pois é... agora tu falou tudo. Viste só como tem vantagem em crer ??

Usermaatre diz:
Pois é. Mas tirar vantagem é pecado. Logo, para não pecar, não creio.

Buneco diz:
Sim, mas aí temos outro paradoxo: aqueles que não creem queimarão no fogo do inferno. Ser descrente é pecado...

Usermaatre diz:
Nah. Se não creio, não tem céu nem inferno. Então posso pecar à vontade!

Buneco diz:
Aha, falácia !!! O fato de não crer não quer dizer que não exista !

Usermaatre diz:
O que importa é aquilo que sinto no meu coração, minha consciência.

Buneco diz:
Ah, mas eu não vejo o teu coração, então ele não existe.

Usermaatre diz:
Claro que existe! Eu estou vivo, então é facilmente dedutível!

Buneco diz:
Sim, mas tu podes ser uma máquina, um E.T. ou pior...

Usermaatre diz:
Não... sou uma criatura de Deus, não mais que as árvores, nem menos que as estrelas.

Buneco diz:
Bah meu, gostei dessa...

Usermaatre diz:
Boa, né?

Buneco diz:
Bah cara adorei, e isso prova a existência de Deus

Despedida

Essa chuva insistente que cai lá fora
Quer afogar minha esperança
ou lavar a tristeza embora?
Pois os dias já me são frios e curtos
mas longos em solidão.
As tardes não têm mais graça,
o café não tem mais sabor,
as vozes são todas iguais.
Meu amigo foi-se embora;
mais um que leva consigo
a lágrima de quem fica e chora.

29 de mai. de 2006

Utilidade Pública

A Globo prestou um dos melhores serviços de utilidade pública com a série "Operação Bola de Cristal", exibida no Fantástico. Conseguiu explicitar como operam esses videntes e paranormais que infestam o mundo afora.
Agora, poderia fazer uma nova série, talvez chamada "Operação Bíblia Sagrada", para acabar com outra enganação, muito maior...

28 de mai. de 2006

Mal-entendido

Uma das piores coisas que pode acontecer na realização dos processos de comunicação é o mal-entendido. Ele ocorre quando um dos interlocutores interpreta erroneamente o que o outro quis dizer, e por vezes, ocorre recíproca e simultaneamente.
Auxiliado pela Lei de Murphy, o mal-entendido normalmente acontece quando não deve acontecer, causando grandes embaraços e prejuízos. Dificilmente acontece um mal-entendido sobre uma bobagem. Mas sobre coisas importantes, daí sim, tudo parece conspirar para que algo saia errado, para que alguém não se faça entender.
O que mais assusta no mal-entendido é que ele pode quebrar paradigmas, invalidar regras, abalar certezas. Ele é subversivo e cruel. Semeia a discórdia entre nós. Devemos eliminá-lo por completo das nossas vidas. Abaixo o mal-entendido!

26 de mai. de 2006

Anagramas

Um anagrama é uma palavra ou frase formada pela transposição das letras de outra palavra ou frase. É um caso específico de criptograma, muito semelhante ao produzido por cifra de transposição, embora normalmente não obedeça a um algoritmo de transformação, o que pode exigir muita disposição e imaginação do criptoanalista.
Um exemplo de anagrama: a partir de "sapo" temos "sopa" e de "tapa" temos "pata". Anagramas podem manter ou não a categoria gramatical do texto original, e podem ser feitos em língua diversa da língua do texto original. Isso obviamente exigia muita imaginação e conhecimento, tanto do criptógrafo quanto dos possíveis decifradores.
Abaixo estão dois bons exemplos: peguei nomes de dois amigos meus e obtive frases em inglês:
A bastard lushes me.
Enable dick!
Mundus vult decipi, ergo decipiatur.
Nihil amicitiae odiosius acumine nimio.

Troca de equipamentos

Faz tempo que não vejo uma emissora de televisão anunciar "Interrompemos brevemente nossas transmissões para troca de equipamentos". Pois eu queria ter essa capacidade, de sair do ar para fazer minha própria manutenção. Não que eu quisesse que as pessoas deixassem de me assistir, nem que trocassem de canal. Apenas um tempo para eu fazer os ajustes necessários. Talvez até mudar a programação, quem sabe. Mas eu não tenho essa habilidade, então fico a exibir as mesmas imagens embaçadas, programas desgastados, sem o brilho que a audiência merece e sem a nitidez que gostaria de passar. Além disso, acho que nem sei fazer a manutenção. Mas enfim, agradecemos pela audiência.

24 de mai. de 2006

Vazio

É estranha a sensação que substitui um amor sufocado e morto. É algo como visitar uma casa antiga, onde moramos durante muito tempo e fomos felizes; mas a casa, abandonada e envelhecida, mostra quase nada do que um dia já foi. A nostalgia, as lembranças e a comoção ficam mesmo por conta do visitante.
Mais intrigante ainda é quando o amor em tela foi natimorto. Nasceu forte, indomável, capaz de qualquer coisa. Menos de ser realizado, de existir de fato. Nasceu destinado a morrer, e assim, existiu de fato em apenas uma mente, machucou apenas um coração, apertou apenas um peito. De fato, como nunca fora concretizado, nem sequer nasceu. Foi apenas uma paixão, uma sucessão de pensamentos dirigidos, a energia canalizada, o choro derramado.
Agora fica essa sensação incômoda, de algo que fez bem, mas que não existiu; que teria sido bom, mas que era impossível. É um vazio triste, porque ninguém mais mora na antiga casa que existe somente na minha lembrança.

23 de mai. de 2006

O Absorvente

Já faz algum tempo que percebi que possuo características que não são minhas. Quero dizer, são minhas por apropriação, mas não por originalidade. Parece confuso? O fato é que assimilo algumas características de amigos meus. Às vezes são cacoetes, às vezes expressões, maneiras...
Foi no ambiente do segundo grau que percebi isso. O jeito de brincar (e de provocar) do Fernando, e acho que até o jeito de rir dele tomaram conta de mim. Isso fez o professor Breno, num acesso de fúria contra a turma, me chamar de deslumbrado, enquanto crucificava o Fernando para os demais. Claro, devo lembrar que o ambiente da turma também era um solo fértil para cacoetes, manias e todo tipo de proliferação: o nosso professor de SOE acusou-nos de usar linguagem do século XIV; não por menos criamos um jornal chamado “A Centúria”, cuja primeira edição foi publicada em latim vulgar macarrônico ressuscitado.
Dessa época também lembro que, algumas vezes, me via pensando como se fosse o André, como se realmente isso fosse possível. Acho que inconscientemente tentava imitá-lo. Mérito todo dele, pessoa incrível que é. Por sinal, que saudade, cara!
Depois foi da alegria e da espontaneidade do Seiji que peguei muita coisa. O jeito de expressar “estou pensando” com os olhos e a testa, acho que um pouco do modo de falar também - embora definitivamente eu não tenha ficado com sotaque japonês - , foram contribuições deste pequeno grande amigo.
Na seqüência, outra grande influência foi o Flávio. Ele com seu vocabulário pitoresco, empolado, típico da aristocracia capilense, foi fonte de muitas transformações no meu jeito de ser. Acho que daí nasceu a minha face erudita; se eu já tinha algum estudo, foi com ele que ganhei pompa e circunstância. E também a mania de consumir cerveja em grandes quantidades.
Durante o período de faculdade, minha grande influência, e aqui até mesmo conscientemente, foi o Weber. Eu acho que passei a falar como ele, me mexer como ele, usar o recurso das frases-ninjas dele. Acho que quando dava aula, criava piadas como as que ele faria no meu lugar. Quando argumentava com alguém, usava o tom professoral típico do Weber. Claro, eu era um aprendiz de Weber, mas com todas as heranças vindas anteriormente. Mas não posso me esquecer aqui de mencionar o Henrique! Meu querido amigo, meu irmão! Hoje quando faço “txipix”, menos que já fiz outrora, não o faço sem lembrar este amigo que tanta coisa me ensinou. Nesse tempo, as forças resultantes que atuavam em mim eram muito semelhantes àquelas que atuavam no Tales, de tal forma que muitas pessoas diziam que falávamos exatamente da mesma maneira. Hum, agora pensando, acho que ele que me imitava!
Durante algum tempo pensei que essa minha tendência fosse falta de personalidade. Afinal de contas, que motivo me leva a imitar algumas coisas de outras pessoas, ainda que o faça sem intenção consciente? Só porque são pessoas próximas? É alguma tentativa de ser aceito? Já tentei inclusive me policiar mas, de um jeito ou de outro, acabo incorrendo em algum deslize.
Achei que minha última influência seria o Matheus. Já me vi dando muita risada parecida com a dele, e muito da ironia e das alfinetadas que uso atualmente peguei dele. É uma enorme e feliz influência, proporcional ao tamanho da nossa amizade. Mas não foi a última. Peguei do Daniel a mania de fazer cenas com dramaticidade, da Carla a tendência de maliciar tudo que é dito. E se não bastasse, agora toda a ênfase argumentativa, indicador acusativo, rajada coativa e outras características do Bruno e, acho também, do Adriano. Mas também, é impossível não cair na tentação de imitar tão adoráveis pessoas.
Hoje convivo bem com esses pequenos furtos que cometo, essas pequenas piratarias de modos. Acho que pego boas coisas de cada pessoa, e no geral, se isso não me torna uma pessoa melhor, certamente me deixa mais agradável. É como se eu prestasse uma homenagem viva a estas pessoas. E elas merecem!

22 de mai. de 2006

Bestiário

Bestas ferozes
de índole voraz
de atos atrozes
tantas feras mutiladas
Não são os leões do Coliseu
São as palavras faladas.

20 de mai. de 2006

Má Chuvinha

No bar, restávamos apenas nós quatro: Marla, Nataniel, Nuno e eu. Uma cortina de fumaça produzida pelos que ali passaram permeava o ambiente, cedendo lugar vagarosamente ao ar fresco e limpo que vinha da rua. Era o anúncio do fim da festa. Lá fora, uma chuva fina caía insistente havia horas.
Nataniel foi buscar apoio para suas elucubrações junto ao balcão. Tecia hipóteses fantásticas e raciocínios mirabolantes para o advento de um admirável mundo novo. Nuno, impoluto, esboçava uma tentativa de apoio àquelas idéias, ainda que lhe fosse impossível a sua compreensão, pois eram mesmo incompreensíveis. Nataniel havia construído castelos magníficos, mas erigidos sobre nuvens, como aquelas que precipitavam-se lá fora.
Marla, levemente inebriada pela doce champanha que tomara durante a noite, acompanhava com incredulidade aquela cena, talvez porque fosse mais uma encenação. Ou talvez porque a contagem das notas multicoloridas de dinheiro a entretivesse no fechamento do caixa daquela noite festiva.
Numa recaída sobre a esteira de seu triste vício, Nataniel novamente fez uma aposta; o prêmio seriam duas garrafas de boa cerveja. Mas, sabedor de sua inevitável, vindoura e costumeira derrota, tentou desviar o foco de nossas atenções, e acabou por prometer uma garrafa de um respeitável – porém oneroso – uísque aos partícipes. Todos riram.
Todos, menos Nataniel. Num rompante, saiu indômito rua afora, decidido a nunca mais voltar. Escuta-se um estrondo: vou correndo pela rua em busca de meu tão querido amigo. Vejo-o deitado na sarjeta do outro lado da rua, molhado, com a mão esquerda ocultando um ferimento em sua cabeça. De seu lado, magníficos blocos de pedra ricamente entalhados. Sim, um de seus castelos havia despencado das nuvens, e o atingira em cheio na sua cabeça dura!

18 de mai. de 2006

É um circo!



Tenho um amigo chamado Lourenço, que atualmente mora em Barcelona. Ele costuma concluir a narrativa de situações bizarras ou irônicas com a frase “É um circo!”. Normalmente a conclusão é acertada e define bem o assunto que foi abordado, seguida pela risada dos demais presentes e goles adicionais de cerveja. A questão filosófica que cabe, mas que parece não ter resposta, é quem está na platéia e quem está no picadeiro: eu tenho para mim que, na maioria das vezes, trata-se desses circos modernosos, em que é tudo uma coisa só e os pagantes acabam por levar torta na cara.
Sob a lona que cobre o território nacional, eu poderia escrever sobre vários assuntos que parecem se enquadrar . Mas habituados que estamos com os escândalos envolvendo Congresso e Executivo, até mesmo em trabalhos conjuntos (sic), ou com as CPIs que nunca resultam em coisa alguma – sim, o “P” é mesmo de pizza; resta descobrir o significado das outras letras –, tais temas já se tornaram enfadonhos e nem mesmo a imprensa os tem tratado em seu noticiário.
Eis que num fim-de-semana, o crime organizado paulista resolve mostrar seu poder, fazendo várias rebeliões simultâneas em presídios, atacando com truculência postos e delegacias de polícia, incendiando ônibus, assassinando policiais. Um episódio muito triste, que vitimou mais de cem pessoas em mais de duzentos ataques e manchou com sangue o dia das mães. O principal alvo foi a capital do estado, que parece ter finalmente perdido a inocência, aquela mesma que o Rio de Janeiro já perdera há algum tempo. Ficaram evidentes o despreparo do poder público, a vulnerabilidade da população e a dúvida de quando isso vai se repetir.
Mas a bizarrice nacional entrou logo em cena, dando toques de humor negro ao cenário deplorável. Primeiro foi o governador do estado em questão, afirmando que estava tudo sob controle. Sob controle? Descontadas as mortes, o medo geral e a desmoralização sofrida, só em prejuízos nas penitenciárias destruídas a quantia chega a mais de dois milhões e meio de reais. Interessante o controle esse que o governador diz ter.
Depois, foi o ministro das comunicações dizendo que é responsabilidade das operadoras de telefonia móvel controlar o ingresso dos aparelhos em áreas proibidas (leia-se penitenciárias). Até é possível imaginar que elas devam evitar transmitir ou bloquear o sinal em tais áreas, mas vamos combinar que, se tais aparelhos entram num presídio, a culpa não é exatamente das operadoras. Em qualquer agência bancária o cidadão precisa passar por uma porta detectora de metais e nem consegue entrar se tiver um molho de chaves ou marca-passo.
Mas a melhor frase foi outra, também do governador. Ele disse que achava muito justo os presos terem pedido televisores para assistirem à Copa do Mundo de futebol, pois eram seres humanos e também tinham direito ao entretenimento. Mas que pitoresco! Depois de comandarem um verdadeiro caos social, além de estarem presos provavelmente porque fizeram mais do que roubar a galinha do pátio do vizinho, os pobrezinhos também devem se divertir como qualquer outra pessoa!
Não é difícil imaginar que, entre as próximas reivindicações, eles peçam televisores para ver o Big Brother, ou mesmo orelhões para poder escolher o participante eliminado da semana. Seria justo! E no carnaval? Os pobrezinhos estão lá, presos, isolados, nem podem sair para pularem um sambinha ou desopilarem um pouquinho. Acho mesmo que o governador possa estar certo, e que ele deve contratar Sandy e Júnior para shows semanais nos presídios.
É, meu amigo Lourenço. Tens toda razão: é um circo. Um circo de horrores.

16 de mai. de 2006

In principio erat verbum...

Pois bem. Cá estamos porque aqui chegamos. Eis que inauguro o meu blogue, protegido pelo anonimato, guardado pelo sigilo e oculto pela cardinalidade. Sei que isso me será cobrado depois, pelo menos por uma pessoa. Mas por enquanto, quero que permaneça assim mesmo.
Esse blogue tem inicialmente três propósitos:
a) expor minhas idéias sobre assuntos que me importam;
b) expor meus textos, embora que para o bem escrever, eu saiba fazê-lo pior do que todos;
c) expor fatos relevantes do meu cotidiano, desde que passem por critérios rigorosos de seleção!
Acho que o ponto fulcral mesmo é treinar a escrita, posto que agora sou um aluno da Letras e, de fato, faz tempo que não exercito a habilidade de escrever.
Bom, eu ainda não editei o meu perfil, portanto meus dados pessoais serão fornecidos em doses homeopáticas. Além do mais, acho que não interessam a ninguém mesmo, assim como o próprio blogue em si. Mas se estiveres lendo isso agora, sê bem-vindo de qualquer forma. Bom proveito!