Tenho um amigo chamado Lourenço, que atualmente mora em Barcelona. Ele costuma concluir a narrativa de situações bizarras ou irônicas com a frase “É um circo!”. Normalmente a conclusão é acertada e define bem o assunto que foi abordado, seguida pela risada dos demais presentes e goles adicionais de cerveja. A questão filosófica que cabe, mas que parece não ter resposta, é quem está na platéia e quem está no picadeiro: eu tenho para mim que, na maioria das vezes, trata-se desses circos modernosos, em que é tudo uma coisa só e os pagantes acabam por levar torta na cara.
Sob a lona que cobre o território nacional, eu poderia escrever sobre vários assuntos que parecem se enquadrar . Mas habituados que estamos com os escândalos envolvendo Congresso e Executivo, até mesmo em trabalhos conjuntos (sic), ou com as CPIs que nunca resultam em coisa alguma – sim, o “P” é mesmo de pizza; resta descobrir o significado das outras letras –, tais temas já se tornaram enfadonhos e nem mesmo a imprensa os tem tratado em seu noticiário.
Eis que num fim-de-semana, o crime organizado paulista resolve mostrar seu poder, fazendo várias rebeliões simultâneas em presídios, atacando com truculência postos e delegacias de polícia, incendiando ônibus, assassinando policiais. Um episódio muito triste, que vitimou mais de cem pessoas em mais de duzentos ataques e manchou com sangue o dia das mães. O principal alvo foi a capital do estado, que parece ter finalmente perdido a inocência, aquela mesma que o Rio de Janeiro já perdera há algum tempo. Ficaram evidentes o despreparo do poder público, a vulnerabilidade da população e a dúvida de quando isso vai se repetir.
Mas a bizarrice nacional entrou logo em cena, dando toques de humor negro ao cenário deplorável. Primeiro foi o governador do estado em questão, afirmando que estava tudo sob controle. Sob controle? Descontadas as mortes, o medo geral e a desmoralização sofrida, só em prejuízos nas penitenciárias destruídas a quantia chega a mais de dois milhões e meio de reais. Interessante o controle esse que o governador diz ter.
Depois, foi o ministro das comunicações dizendo que é responsabilidade das operadoras de telefonia móvel controlar o ingresso dos aparelhos em áreas proibidas (leia-se penitenciárias). Até é possível imaginar que elas devam evitar transmitir ou bloquear o sinal em tais áreas, mas vamos combinar que, se tais aparelhos entram num presídio, a culpa não é exatamente das operadoras. Em qualquer agência bancária o cidadão precisa passar por uma porta detectora de metais e nem consegue entrar se tiver um molho de chaves ou marca-passo.
Mas a melhor frase foi outra, também do governador. Ele disse que achava muito justo os presos terem pedido televisores para assistirem à Copa do Mundo de futebol, pois eram seres humanos e também tinham direito ao entretenimento. Mas que pitoresco! Depois de comandarem um verdadeiro caos social, além de estarem presos provavelmente porque fizeram mais do que roubar a galinha do pátio do vizinho, os pobrezinhos também devem se divertir como qualquer outra pessoa!
Não é difícil imaginar que, entre as próximas reivindicações, eles peçam televisores para ver o Big Brother, ou mesmo orelhões para poder escolher o participante eliminado da semana. Seria justo! E no carnaval? Os pobrezinhos estão lá, presos, isolados, nem podem sair para pularem um sambinha ou desopilarem um pouquinho. Acho mesmo que o governador possa estar certo, e que ele deve contratar Sandy e Júnior para shows semanais nos presídios.
É, meu amigo Lourenço. Tens toda razão: é um circo. Um circo de horrores.
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