20 de mai. de 2006

Má Chuvinha

No bar, restávamos apenas nós quatro: Marla, Nataniel, Nuno e eu. Uma cortina de fumaça produzida pelos que ali passaram permeava o ambiente, cedendo lugar vagarosamente ao ar fresco e limpo que vinha da rua. Era o anúncio do fim da festa. Lá fora, uma chuva fina caía insistente havia horas.
Nataniel foi buscar apoio para suas elucubrações junto ao balcão. Tecia hipóteses fantásticas e raciocínios mirabolantes para o advento de um admirável mundo novo. Nuno, impoluto, esboçava uma tentativa de apoio àquelas idéias, ainda que lhe fosse impossível a sua compreensão, pois eram mesmo incompreensíveis. Nataniel havia construído castelos magníficos, mas erigidos sobre nuvens, como aquelas que precipitavam-se lá fora.
Marla, levemente inebriada pela doce champanha que tomara durante a noite, acompanhava com incredulidade aquela cena, talvez porque fosse mais uma encenação. Ou talvez porque a contagem das notas multicoloridas de dinheiro a entretivesse no fechamento do caixa daquela noite festiva.
Numa recaída sobre a esteira de seu triste vício, Nataniel novamente fez uma aposta; o prêmio seriam duas garrafas de boa cerveja. Mas, sabedor de sua inevitável, vindoura e costumeira derrota, tentou desviar o foco de nossas atenções, e acabou por prometer uma garrafa de um respeitável – porém oneroso – uísque aos partícipes. Todos riram.
Todos, menos Nataniel. Num rompante, saiu indômito rua afora, decidido a nunca mais voltar. Escuta-se um estrondo: vou correndo pela rua em busca de meu tão querido amigo. Vejo-o deitado na sarjeta do outro lado da rua, molhado, com a mão esquerda ocultando um ferimento em sua cabeça. De seu lado, magníficos blocos de pedra ricamente entalhados. Sim, um de seus castelos havia despencado das nuvens, e o atingira em cheio na sua cabeça dura!

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