5 de jun. de 2007

Confiança

Um profissional da área de segurança de informações sabe que a manutenção do sigilo de senhas é um dos fundamentos da credibilidade de qualquer sistema. Algumas diretivas que devem ser observadas são o uso de senhas diferentes para cada finalidade, a troca periódica - preferencialmente mensal - de todas elas, a não repetição de senhas usadas e a utilização dos mais variados tipos possíveis de caracteres. Dessa maneira, na maioria das situações, o custo para quebrar uma senha ou chave criptográfica envolve muito mais esforço e custo do que o benefício trazido com a sua descoberta.
Infelizmente, profissionais da área sabem que essas diretivas são dificilmente seguidas, e que a manutenção do sigilo é uma regra freqüentemente ignorada. Isso pode deixá-los normalmente frustados ou revoltados, mas a vida acaba ensinando que há, pelo menos, três motivos razoáveis, senão fortes, para esse aparente descuido. Um primeiro motivo é a pouca importância que o bem ou sistema protegido pela senha possa ter, ou o pequeno prejuízo decorrente de um uso possivelmente mal-intencionado. Um segundo motivo é alguma necessidade urgente, alguma situação que exija o compartilhamento desse segredo para a obtenção de uma finalidade maior. E o terceiro e mais nobre dos motivos resume-se a uma simples palavra: confiança.
Confiança é algo difícil de definir em toda sua amplitude, mas é algo bom de ser sentido. Mas é fácil trazer à tela com exemplos. Confiança é precisar de compartilhar uma senha de correio eletrônico ou de acesso a sistemas e saber que não terá a privacidade invadida, nem será alvo de atitudes maliciosas ou fraudulentas. Claro, nem sempre haverá tal necessidade mas, existindo, como é bom e gratificante saber que se pode contar contar com a ajuda de outra pessoa, e que a informação passada está segura e a salvo.
Mas confiança vai muito além de exemplos da vida digital. Pode ser também emprestar algo valioso, afetiva ou financeiramente. Emprestar uma coleção de discos importados do filme preferido, precioso, é também uma forma de demonstrar esse crédito. E se os discos fossem danificados? A confiança está não apenas depositada no desejado zelo que o depositário tomará, mas também na sua atitude caso ocorra algum problema. Simples assim. E dessa mesma forma, um carro pode ser emprestado, tanto para uma noitada amorosa de um amigo, quanto para outro que dele necessite para uma longa viagem profissional.
Uma das formas mais simples e, ao mesmo tempo, controversa e profunda da demonstração desse sentimento, é o empréstimo de uma escova de dentes a um amigo. A escova de dentes é tida como algo muito íntimo, indevassável, que não pode ser passada a outra boca que não a do proprietário. Puro tabu! Se o amigo é confiável e se seus hábitos sanitários são conhecidos e adequados, é muito melhor pedir-lha emprestada do que passar um turno com a boca sendo devastada por açúcares e suas fermentações. Claro que essa não é uma situação ideal, mas é uma possibilidade de higiene que deve ser considerada. Para os assombrados, ela pode ter o impacto psicológico atenuado pela comparação com um simples beijo. Se o amigo é digno de ser beijado (por alguém), então é digno de receber (ou ceder) a escova. No fim, apenas uma questão de confiança, com as vantagens de refrescância e de anti-sepsia da pasta dental.