Certa vez li num livro de História que a cultura egípcia sobrevivera a quase todas invasões, menos à cristianização. Os cristãos acabaram com todo o esplendor daquela ancestral cultura camito-semítica, preservando apenas a língua, então registrada com uma variante do alfabeto grego, ao que se costumou denominar copta. Depois veio a invasão árabe e o Islã, e por ironia do destino, foram os cristãos que preservaram a antiga língua egípcia na sua liturgia e em traduções da Bíblia. Foi graças ao conhecimento de copta que Champollion pôde decifrar a escrita hieroglífica da pedra de Rosetta.
Enfim, o Egito virou uma república árabe, na língua, na escrita e na religião. Os árabes, outro povo semita, espalharam sua cultura mundo afora, e ela foi sobretudo absorvida na África Setentrional. Apesar da invasão árabe em vastas áreas da europa, a sua língua não vingou, exceção feita à Malta. Lá se fala o maltês, uma derivação do árabe, mas escrito com alfabeto latino, talvez porque a população seja majoritariamente católica.
Já na Ásia, terra de povos muito antigos e culturas muito bem arraigadas, a religião e a escrita venceram, mas não a língua. É o caso do Irã, país onde se fala persa, escrito agora com as letras escorridas importadas do árabe. Os persas, povo indo-europeu muito antigo, rezam agora voltados para Meca. O persa, por sinal, é uma língua próxima do urdu, também escrito com alfabeto árabe, língua oficial do Paquistão, que como sabemos, também é um país muçulmano. O interessante é que o urdu é praticamente a mesma língua que o hindi, língua oficial da Índia. Motivos religosos fizeram o primeiro ser influenciado pelo árabe e o persa, e o segundo pelo sânscrito, língua clássica e sagrada do bramanismo, principal religião dos indianos. Por sinal, a maioria das línguas faladas na Índia usam a escrita chamada devanagári, inclusive o próprio hindi.
Os turcos, por sua vez, são originários de tribos altaicas, parentes dos mongóis. Convertidos ao islamismo, já escreveram usando o alfabeto árabe, mas hoje o fazem com o romano. Assim como a maioria das repúblicas turcomanas da Ásia Central, embora algumas ainda usem o cirílico, resquício da época sob influência russa. Mesma influência que ainda justifica a escrita cirílica usada para o mongol.
A Rússia, sede de um dos patricarcados ortodoxos, é um país de maioria eslava. Os eslavos também são outro grupo indo-europeu. De uma forma geral, usam o cirílico quando são ortodoxos, e o romano quando são católicos. Assim, na Sérvia a língua que é escrita ao jeito de Moscou, na Croácia é escrita à moda de Roma. Aliás, as ex-repúblicas da Iugoslávia formam uma sopa étnico-religiosa muito peculiar.
Alheios a toda essa suruba cultural que virou o Velho Mundo, os nossos índios foram catequizados e viram suas culturas suplantadas pelo português crioulo do Brasil. Desprovidos de sua identidade, já foram vítimas de tentativas de escravização e de extinção. Agora vivem sob a política oficial de preservação, embora seja discutível o que se deseja preservar, pois são dependentes de uma sociedade que os coloca à sua margem. Hoje estão aí, vendendo cestinhos nas feiras, ou morrendo de tédio e cirrose alcoólica.
Enfim, o Egito virou uma república árabe, na língua, na escrita e na religião. Os árabes, outro povo semita, espalharam sua cultura mundo afora, e ela foi sobretudo absorvida na África Setentrional. Apesar da invasão árabe em vastas áreas da europa, a sua língua não vingou, exceção feita à Malta. Lá se fala o maltês, uma derivação do árabe, mas escrito com alfabeto latino, talvez porque a população seja majoritariamente católica.
Já na Ásia, terra de povos muito antigos e culturas muito bem arraigadas, a religião e a escrita venceram, mas não a língua. É o caso do Irã, país onde se fala persa, escrito agora com as letras escorridas importadas do árabe. Os persas, povo indo-europeu muito antigo, rezam agora voltados para Meca. O persa, por sinal, é uma língua próxima do urdu, também escrito com alfabeto árabe, língua oficial do Paquistão, que como sabemos, também é um país muçulmano. O interessante é que o urdu é praticamente a mesma língua que o hindi, língua oficial da Índia. Motivos religosos fizeram o primeiro ser influenciado pelo árabe e o persa, e o segundo pelo sânscrito, língua clássica e sagrada do bramanismo, principal religião dos indianos. Por sinal, a maioria das línguas faladas na Índia usam a escrita chamada devanagári, inclusive o próprio hindi.
Os turcos, por sua vez, são originários de tribos altaicas, parentes dos mongóis. Convertidos ao islamismo, já escreveram usando o alfabeto árabe, mas hoje o fazem com o romano. Assim como a maioria das repúblicas turcomanas da Ásia Central, embora algumas ainda usem o cirílico, resquício da época sob influência russa. Mesma influência que ainda justifica a escrita cirílica usada para o mongol.
A Rússia, sede de um dos patricarcados ortodoxos, é um país de maioria eslava. Os eslavos também são outro grupo indo-europeu. De uma forma geral, usam o cirílico quando são ortodoxos, e o romano quando são católicos. Assim, na Sérvia a língua que é escrita ao jeito de Moscou, na Croácia é escrita à moda de Roma. Aliás, as ex-repúblicas da Iugoslávia formam uma sopa étnico-religiosa muito peculiar.
Alheios a toda essa suruba cultural que virou o Velho Mundo, os nossos índios foram catequizados e viram suas culturas suplantadas pelo português crioulo do Brasil. Desprovidos de sua identidade, já foram vítimas de tentativas de escravização e de extinção. Agora vivem sob a política oficial de preservação, embora seja discutível o que se deseja preservar, pois são dependentes de uma sociedade que os coloca à sua margem. Hoje estão aí, vendendo cestinhos nas feiras, ou morrendo de tédio e cirrose alcoólica.
3 comentários:
Tá muito bom o texto! É necessária muita erudição pra fazer todas essas associações.
Só não gostei do final. É um relação inesperada e, a meu ver, insustentada. Acho que tu poderia continuar e deixar mais claro qual é a relação.
Desde quando arabes e semitas sao a mesma coisa?!
Árabes e semitas não são a mesma coisa, mas existe uma relação de pertinência entre os dois conjuntos: se considerarmos os árabes strictu sensu , eles são um dos grupos pertencentes à família etno-lingüística chamada semita, assim como os hebreus.
Se pegares a definição da palavra semita no Aurélio, obterás:
[Do antr. Sem, de uma personagem bíblica, + -ita2.]
S. 2 g.
1. Indivíduo dos semitas, família etnográfica e lingüística, originária da Ásia ocidental, e que compreende os hebreus, os assírios, os aramaicos, os fenícios, os árabes.
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