22 de jul. de 2006

Cansaço

Quando meu corpo está cansado, procuro repouso para recuperar as forças. Normalmente uma boa noite de sono é suficientemente revigorante. Mas tenho sentido um outro tipo de cansaço, um que as noites de sono não resolvem. Talvez eu esteja com a alma cansada, e o sono torna-se uma fuga. Mas é uma fuga em vão, porque a cada manhã está tudo ali, de novo, para me cansar novamente.
Assim, me cansa uma família desestruturada, de pessoas teimosas, possessivas, chantagistas e que convivem numa situação instável e insustentável já há muitos anos. Elas formam uma espantosa e intricada rede de intrigas e interesses, sediada em um terreno que já chego a amaldiçoar, embora tenha crescido entre suas árvores. Para sustentar tal desiquilíbrio usam das forças dos familiares que, por compaixão ou por medo de sentirem remorso, ainda mantêm vínculos. De minha parte, cada vez menos afetivos.
Também me cansa ter um amor que, por impossível, tornou-se doentio e patético. Tentei dele me desvecilhar mas não obtive êxito. Queima ainda dentro de mim como uma úlcera debochada, e me consome com tristeza momentos que deveriam ser apenas de alegria. E também por ele joguei-me novamente à solidão, a desimportância, ao esquecimento. Esqueci-me de mim mesmo, e vejo meu corpo se alastrar a cada dia do meu fatigante sedentarismo; e isso também me cansa.
Estou cansado da inércia que deixei me possuir, da estagnação infrutífera que se tornou minha vida. Cansado de ver o tempo passar mas as coisas não mudarem. Cansado de correr em círculos, ainda que às vezes pareçam elipses. Estou cansado da minha ironia, das minhas palavras virulentas que ferem quem amo. Cansado dos meus queixumes, das minhas ladainhas, que tampouco para a riqueza literária se prestam. Estou cansado de mim.

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