24 de jul. de 2006

Xangri-lá

Devo confessar que, quando conheci Xangri-lá, não lhe dei o devido valor. Achei um lugar bonito, mas comum. Não percebi nenhuma exuberância e tampouco pensei que aquele lugar pudesse me acolher. Penso mesmo que a maioria das pessoas também tem essa reação morna em relação a uma primeira impressão.
Mas Xangri-lá vai se mostrando aos poucos. Talvez a primeira coisa que se perceba é sua constante harmonia; uma alegria simples, porém marcante, emana daquela terra. Característica inconfundível é a mania local por jogos, apostas, disputas. Quem nunca se deixou levar por uma inocente disputa e acabou pagando os tradicionais "cinco pulinhos para um lado, e cinco para o outro"?
Xangri-lá é unica e bela em sua forma, por seus costumes; tem uma preguiça provinciana mas prazeres cosmopolitas. Descortinada sua beleza imaterial, percebe-se que sua geografia também tem um raro esplendor. O sol brilha sempre, sem ofuscar, e aquece quem lá esteja. As outras formas, por vezes incomuns, formam um conjunto muito harmonioso.
Então, num segundo momento, fiquei completamente apaixonado por Xangri-lá. Achei que aquele lugar fosse minha vida; mais do que isso, queria Xangri-lá apenas para mim, num exagero equivocado de minha parte. Mas aprendi que o que eu desejava era impossível de ter, e que de outra forma, talvez melhor e mais duradoura, estávamos já fortemente ligados.
O povo dali tem uma auto-consciência impressionante, e a conversa com qualquer um de seus habitantes comprova uma profunda sabedoria, como se cada um carregasse em si toda a experiência pessoal possível, e a prudência de toda a humanidade. Os nativos são assim: apesar de poderem, às vezes, parecer desinteressados, aconselham e ouvem como poucos irmãos seriam capazes.
Hoje tenho um belo casarão bem no coração de Xangri-lá, onde busco o abrigo contra as inquietudes da vida. Em Xangri-lá encontro paz, alegria, amigos. Não nasci naquelas terras, mas é lá que fica minha casa. Em Xangri-lá, sinto o conforto e a segurança de um gato que adormece enrodilhado no travesseiro de seu querido dono.

Nenhum comentário: