23 de mai. de 2006

O Absorvente

Já faz algum tempo que percebi que possuo características que não são minhas. Quero dizer, são minhas por apropriação, mas não por originalidade. Parece confuso? O fato é que assimilo algumas características de amigos meus. Às vezes são cacoetes, às vezes expressões, maneiras...
Foi no ambiente do segundo grau que percebi isso. O jeito de brincar (e de provocar) do Fernando, e acho que até o jeito de rir dele tomaram conta de mim. Isso fez o professor Breno, num acesso de fúria contra a turma, me chamar de deslumbrado, enquanto crucificava o Fernando para os demais. Claro, devo lembrar que o ambiente da turma também era um solo fértil para cacoetes, manias e todo tipo de proliferação: o nosso professor de SOE acusou-nos de usar linguagem do século XIV; não por menos criamos um jornal chamado “A Centúria”, cuja primeira edição foi publicada em latim vulgar macarrônico ressuscitado.
Dessa época também lembro que, algumas vezes, me via pensando como se fosse o André, como se realmente isso fosse possível. Acho que inconscientemente tentava imitá-lo. Mérito todo dele, pessoa incrível que é. Por sinal, que saudade, cara!
Depois foi da alegria e da espontaneidade do Seiji que peguei muita coisa. O jeito de expressar “estou pensando” com os olhos e a testa, acho que um pouco do modo de falar também - embora definitivamente eu não tenha ficado com sotaque japonês - , foram contribuições deste pequeno grande amigo.
Na seqüência, outra grande influência foi o Flávio. Ele com seu vocabulário pitoresco, empolado, típico da aristocracia capilense, foi fonte de muitas transformações no meu jeito de ser. Acho que daí nasceu a minha face erudita; se eu já tinha algum estudo, foi com ele que ganhei pompa e circunstância. E também a mania de consumir cerveja em grandes quantidades.
Durante o período de faculdade, minha grande influência, e aqui até mesmo conscientemente, foi o Weber. Eu acho que passei a falar como ele, me mexer como ele, usar o recurso das frases-ninjas dele. Acho que quando dava aula, criava piadas como as que ele faria no meu lugar. Quando argumentava com alguém, usava o tom professoral típico do Weber. Claro, eu era um aprendiz de Weber, mas com todas as heranças vindas anteriormente. Mas não posso me esquecer aqui de mencionar o Henrique! Meu querido amigo, meu irmão! Hoje quando faço “txipix”, menos que já fiz outrora, não o faço sem lembrar este amigo que tanta coisa me ensinou. Nesse tempo, as forças resultantes que atuavam em mim eram muito semelhantes àquelas que atuavam no Tales, de tal forma que muitas pessoas diziam que falávamos exatamente da mesma maneira. Hum, agora pensando, acho que ele que me imitava!
Durante algum tempo pensei que essa minha tendência fosse falta de personalidade. Afinal de contas, que motivo me leva a imitar algumas coisas de outras pessoas, ainda que o faça sem intenção consciente? Só porque são pessoas próximas? É alguma tentativa de ser aceito? Já tentei inclusive me policiar mas, de um jeito ou de outro, acabo incorrendo em algum deslize.
Achei que minha última influência seria o Matheus. Já me vi dando muita risada parecida com a dele, e muito da ironia e das alfinetadas que uso atualmente peguei dele. É uma enorme e feliz influência, proporcional ao tamanho da nossa amizade. Mas não foi a última. Peguei do Daniel a mania de fazer cenas com dramaticidade, da Carla a tendência de maliciar tudo que é dito. E se não bastasse, agora toda a ênfase argumentativa, indicador acusativo, rajada coativa e outras características do Bruno e, acho também, do Adriano. Mas também, é impossível não cair na tentação de imitar tão adoráveis pessoas.
Hoje convivo bem com esses pequenos furtos que cometo, essas pequenas piratarias de modos. Acho que pego boas coisas de cada pessoa, e no geral, se isso não me torna uma pessoa melhor, certamente me deixa mais agradável. É como se eu prestasse uma homenagem viva a estas pessoas. E elas merecem!

3 comentários:

Pedro disse...

Hehehehe.
Aprendeu comigo a jogar escova também!

Usermaatre disse...

Sim, se eu fosse escrever tudo o que aprendi contigo, gastaria laudas e mais laudas.
E pior, é que não poderia concluir, pois ainda vou aprender muitas outras coisas.
Mas estás certo! Na escova, não apenas aprendi, como te superei.

Unknown disse...

E comigo? a unica coisa que aprendeste foi a encenação? so isso? é assim que avalias nossa amizade? encenação?! Muito triste, Ricardo, muito triste mesmo...Eu, que sempre fui só coração para contigo...