9 de jun. de 2006

Muito de nada

Se uma das conseqüências imediatas do mundo altamente tecnológico atual é a facilidade com que as informações são disponibilizadas e acessadas, outra – e não menos marcante – é a enorme quantidade de informações disponíveis. São elas não apenas sobre as tecnologias propriamente ditas, mas também sobre toda a ebulição cultural e consumista que vivenciamos. Conseguem os jovens acadêmicos lidar com tanta informação? Segundo a pesquisadora e educadora argentina Ana Teberosky, os universitários “lêem textos variados, mas não se aprofundam em nada, em nenhuma leitura. Lêem de modo superficial e fragmentário, como quem assiste à televisão.”
A primeira pergunta que se impõe é se é possível se aprofundar em todas as leituras. Muitas vezes, na formação do jovem estudante, as leituras devem ser ágeis, quase sem compromisso, para que ele consiga se manter informado sobre tudo o que está acontecendo ao seu redor. Além disso, vai ler e estudar com profundidade o que for do seu interesse ou necessidade, pois demandam emprego dos fatores tempo e empenho. Então, por limitação desses fatores, e pela quase infinidade de assuntos disponíveis, é fácil verificar que o resultado é uma leitura leve e descomprometida com a maioria dos temas.
A segunda questão, talvez o anverso da anterior, é se é necessário o aprofundamento. Para usar termos da moda, somos “bombardeados por torrentes de informações”. Vale dizer que nem todas são úteis; e também nem todas são confiáveis. Assim, a indústria de entretenimento produz fatos e notícias sobre esses fatos, numa escala recursiva e exaustiva. Os periódicos – jornais, revistas – avultam com seus colunistas, cronistas e resenhistas, nem todos qualificados como se desejaria, ou que nem sempre discorrem sobre temas importantes como se esperaria. Todos podem escrever sobre tudo, e se um dia foi dito que o papel aceitava qualquer coisa, hoje podemos dizer que tudo já foi aceito e está na Internet. A um estudante universitário, então, cabe a tarefa de ler e selecionar aquilo que acrescenta à sua formação; imergir no que lhe pode ser útil.
Não é tarefa fácil essa busca constante, verdadeira perscrutação inconsciente. Até porque também toma tempo e empenho, como que numa metaintelecção de texto. Talvez felizes tenham sido os cientistas e filólogos renascentistas, que podiam ler, estudar e concentrar em si todo o conhecimento disponível, verdadeiras enciclopédias vivas. Para os estudantes do mundo moderno, seria mesmo interessante que houvesse algo como um controle remoto para usar em textos, dando zoom nos que fossem bons ou interessantes, pulando os que não calham, e desligando o aparelho antes de lerem bobagens.

Um comentário:

hires héglan disse...

pois é...

hehehhe