Já faz tanto tempo que moro aqui no sítio que quase não lembro como era viver na rua. Embora aqui ainda venham carros e aqueles carros ainda maiores, que rosnam muito, é certamente bem mais tranqüilo. O que não vejo muito aqui são cavalos puxando carroças, e sempre pensei que em sítios houvesse tanto cavalos quanto carroças! De qualquer forma, gosto muito daqui: tenho grandes amigos, fiz muitas namoradas – e devo ter uma dúzia de filhotes espalhados por aí, se meu faro não me engana! Além disso, na parte alta do sítio, criam-se gatos que podemos caçar à vontade. É muito divertido!
Aqui no sítio há muitas casas. Muitas, e todas um tanto parecidas. Quase todas têm duas camadas de janelas e, para se chegar nas segundas camadas, há uma infinidade de escadarias e rampas de acesso. Claro, não posso falar em casas sem falar em pessoas. E em muitas pessoas! Aqui chegam e daqui vão muitas pessoas todos os dias, mas por incrível que pareça, acho que morar no sítio não mora nenhuma.
Reparei que as pessoas mudam com o passar do tempo, quero dizer, de cada época de calor para a seguinte, vejo focinhos novos e deixo de ver outros tantos. Uma coisa muito curiosa é que, em alguns dias da época quente, as pessoas com focinhos novos acabam sendo presas, amarradas, mudam até de cor; e as pessoas com focinhos conhecidos ficam ao redor, rosnando, latindo, jogando umas águas bem mal-cheirosas. Uns coitados ficam fedendo mais do que eu depois de pegar chuva! Ainda bem que isso não ocorre durante todo o tempo, porque alguns focinhos-novos parecem não gostar disso.
Pessoas são bichos estranhos mesmo. Às vezes parecem adorar nossa companhia, fazem cafuné na minha barriga, tentam latir comigo, mas eu não entendo o que tentam dizer. Outras vezes, nos enxotam, nos xingam, nos chutam. E isso acontece muito quando nos aproximamos das casas que cheiram à comida, onde realmente acho que fazem comida. Pelo menos, de vez em quando ganho um restinho bem gostoso.
Uma coisa engraçada nas pessoas é que machos e fêmeas são muito parecidos. Já tentei distingui-los pelo tamanho dos pêlos na cabeça, mas não dá certo, pois ambos podem ter pêlos longos ou curtos. Machos podem ter ou não penugem perto do focinho, mas nunca vi uma fêmea que a tivesse. Ah, acho que fêmeas tem latido mais esganiçado que os machos, mas nem sempre.
Outra esquisitice das pessoas é que elas estão sempre entrando nas casas e depois saindo delas. De tempo em tempo, matilhas inteiras de pessoas adentram, ficam paradas olhando para uma pessoa que fica latindo de pé, depois saem todas de novo. As pessoas não parecem gostar muito de aproveitar o gramado, de correr pelas rampas, de caçar gatos. Ficam lá, dentro das casas. Que tédio deve ser! Mas na época fria, pelo menos, temos algo em comum com as pessoas: elas também gostam de lagartear quando a bola quente aparece.
Mas fico mesmo espantado de como há pessoas que colocam gravetos com brasa na boca. São gravetinhos pequenos, bem claros, mas com uma brasa na ponta! E o que é pior, quando não tem brasa, as próprias pessoas fazem aparecer uma! Será que são loucas? Não sabem que brasa queima e faz mal? Eu nunca chego perto de nada com fogo ou brasa, e acho que aprendi isso com minha mãe. Outro dia, por sinal, vi um grupinho de pessoas numa das casas lá do canto do sítio; todas elas passavam o gravetinho com brasa umas para as outras. Era um gravetinho bem pequeno, diferente dos outros, e tinha um cheiro bem forte. E não é que, apesar disso, as pessoas davam latidos de alegria? Pessoas são mesmo bichos estranhos!
Aqui no sítio há muitas casas. Muitas, e todas um tanto parecidas. Quase todas têm duas camadas de janelas e, para se chegar nas segundas camadas, há uma infinidade de escadarias e rampas de acesso. Claro, não posso falar em casas sem falar em pessoas. E em muitas pessoas! Aqui chegam e daqui vão muitas pessoas todos os dias, mas por incrível que pareça, acho que morar no sítio não mora nenhuma.
Reparei que as pessoas mudam com o passar do tempo, quero dizer, de cada época de calor para a seguinte, vejo focinhos novos e deixo de ver outros tantos. Uma coisa muito curiosa é que, em alguns dias da época quente, as pessoas com focinhos novos acabam sendo presas, amarradas, mudam até de cor; e as pessoas com focinhos conhecidos ficam ao redor, rosnando, latindo, jogando umas águas bem mal-cheirosas. Uns coitados ficam fedendo mais do que eu depois de pegar chuva! Ainda bem que isso não ocorre durante todo o tempo, porque alguns focinhos-novos parecem não gostar disso.
Pessoas são bichos estranhos mesmo. Às vezes parecem adorar nossa companhia, fazem cafuné na minha barriga, tentam latir comigo, mas eu não entendo o que tentam dizer. Outras vezes, nos enxotam, nos xingam, nos chutam. E isso acontece muito quando nos aproximamos das casas que cheiram à comida, onde realmente acho que fazem comida. Pelo menos, de vez em quando ganho um restinho bem gostoso.
Uma coisa engraçada nas pessoas é que machos e fêmeas são muito parecidos. Já tentei distingui-los pelo tamanho dos pêlos na cabeça, mas não dá certo, pois ambos podem ter pêlos longos ou curtos. Machos podem ter ou não penugem perto do focinho, mas nunca vi uma fêmea que a tivesse. Ah, acho que fêmeas tem latido mais esganiçado que os machos, mas nem sempre.
Outra esquisitice das pessoas é que elas estão sempre entrando nas casas e depois saindo delas. De tempo em tempo, matilhas inteiras de pessoas adentram, ficam paradas olhando para uma pessoa que fica latindo de pé, depois saem todas de novo. As pessoas não parecem gostar muito de aproveitar o gramado, de correr pelas rampas, de caçar gatos. Ficam lá, dentro das casas. Que tédio deve ser! Mas na época fria, pelo menos, temos algo em comum com as pessoas: elas também gostam de lagartear quando a bola quente aparece.
Mas fico mesmo espantado de como há pessoas que colocam gravetos com brasa na boca. São gravetinhos pequenos, bem claros, mas com uma brasa na ponta! E o que é pior, quando não tem brasa, as próprias pessoas fazem aparecer uma! Será que são loucas? Não sabem que brasa queima e faz mal? Eu nunca chego perto de nada com fogo ou brasa, e acho que aprendi isso com minha mãe. Outro dia, por sinal, vi um grupinho de pessoas numa das casas lá do canto do sítio; todas elas passavam o gravetinho com brasa umas para as outras. Era um gravetinho bem pequeno, diferente dos outros, e tinha um cheiro bem forte. E não é que, apesar disso, as pessoas davam latidos de alegria? Pessoas são mesmo bichos estranhos!
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