22 de mai. de 2007
Da Inveja
Durante a infância tive muitos amigos que, de alguma forma, mantinham estreitas ligações com seus irmãos. Acredito que a pouca diferença de idade entre eles favorecia esse entendimento, embora também pudesse criar clima de disputa, principalmente mais tarde, na adolescência. Dentre os amigos que agregavam seus irmãos ao meu círculo de amizade, posso citar o Marcelo e a Fernanda; depois o Roberto com o Carlos; depois o André com o Rafael; eles conseguiam interagir de uma maneira que eu não podia, ou não conseguia, com os meus. Mais do que isso, partilhavam de interesses comuns e se defendiam de inimigos externos, muitas vezes representados pelo controle dos pais.
Eu não tinha essa vivência em casa. Meu irmão e minha irmã, ambos um tanto mais velhos do que eu, viviam preocupados com seus próprios problemas ou criando alguns para mim. O ambiente era permanentemente conflituoso. Lembro-me de fazer conchavos com um ou outro conforme o decorrer das brigas e disputas (anos depois, fui perceber uma analogia dessa situação com as "eternas" guerras e alianças entre Eurásia, Lestásia e Oceania, do livro 1984). Além disso, havia um clima de delação: o deslize de algum era imediatamente reportado à autoridade vigente ou usado como argumento em alguma chantagem.
Essa situação me incomodava, e era mais um fator que me fazia procurar abrigo afetivo fora de casa. Amigos foram tornando-se cada vez mais importantes e, ao mesmo tempo, como causa e efeito, meu diálogo familiar diminuía. Devo admitir, entretanto, que muitas vezes busquei conforto emocional na minha irmã, que prontamente me socorreu. Com o tempo, acabei criando com ela o mais forte vínculo dentre meus familiares.
Dessa maneira, fui buscando nos amigos os laços fraternos mais fortes, o que muitas vezes me deixava numa posição de dependência ou de deslocamento. Por melhor que um amigo seja, ele não tem o compromisso de um irmão e, na maioria da vezes, não quer ter. Uma boa comparação seria dizer que irmãos são como cães: podem latir, morder, mas sempre estão à volta; já amigos são como gatos: são mais graciosos, divertidos, mas também mais ariscos, e não se pode contar muito com eles.
E ultimamente tenho reparado nisso, nesse binônio "amigo-irmão", mistura de compromisso formal sangüíneo e dedicação espontânea e desinteressada. No exemplo dos irmãos que tocam violão e cantam de noite no quarto; ou daqueles que camuflam uma garrafa de uísque como presente para poder beber até cair num bar (e agora o caçula lamenta a falta do outro, que se mudou para longe); ou da cumplicidade daqueles que, como numa traquinagem, batem e consertam o carro, escondidos, para os pais não ficarem sabendo. Tudo isso me faz sentir uma inveja parda, uma admiração nostálgica de algo bom e profundo que não tive.
Eu não tinha essa vivência em casa. Meu irmão e minha irmã, ambos um tanto mais velhos do que eu, viviam preocupados com seus próprios problemas ou criando alguns para mim. O ambiente era permanentemente conflituoso. Lembro-me de fazer conchavos com um ou outro conforme o decorrer das brigas e disputas (anos depois, fui perceber uma analogia dessa situação com as "eternas" guerras e alianças entre Eurásia, Lestásia e Oceania, do livro 1984). Além disso, havia um clima de delação: o deslize de algum era imediatamente reportado à autoridade vigente ou usado como argumento em alguma chantagem.
Essa situação me incomodava, e era mais um fator que me fazia procurar abrigo afetivo fora de casa. Amigos foram tornando-se cada vez mais importantes e, ao mesmo tempo, como causa e efeito, meu diálogo familiar diminuía. Devo admitir, entretanto, que muitas vezes busquei conforto emocional na minha irmã, que prontamente me socorreu. Com o tempo, acabei criando com ela o mais forte vínculo dentre meus familiares.
Dessa maneira, fui buscando nos amigos os laços fraternos mais fortes, o que muitas vezes me deixava numa posição de dependência ou de deslocamento. Por melhor que um amigo seja, ele não tem o compromisso de um irmão e, na maioria da vezes, não quer ter. Uma boa comparação seria dizer que irmãos são como cães: podem latir, morder, mas sempre estão à volta; já amigos são como gatos: são mais graciosos, divertidos, mas também mais ariscos, e não se pode contar muito com eles.
E ultimamente tenho reparado nisso, nesse binônio "amigo-irmão", mistura de compromisso formal sangüíneo e dedicação espontânea e desinteressada. No exemplo dos irmãos que tocam violão e cantam de noite no quarto; ou daqueles que camuflam uma garrafa de uísque como presente para poder beber até cair num bar (e agora o caçula lamenta a falta do outro, que se mudou para longe); ou da cumplicidade daqueles que, como numa traquinagem, batem e consertam o carro, escondidos, para os pais não ficarem sabendo. Tudo isso me faz sentir uma inveja parda, uma admiração nostálgica de algo bom e profundo que não tive.
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